Pelo que consta nos dicionários, vilão é aquele sujeito descortês, grosseiro, malcriado, abjeto, baixo, desprezível, que comete más ações, avarento e sórdido (não bate tim-tim por tim-tim com certo personagem muito em voga na atualidade?).
Transferindo esses conceitos para as relações internacionais, vilão era o país - ou o eufemismo coalizão - com interesses bélicos e de dominação.
Era assim. Como tudo neste mundo, esse conceito mudou. Hoje, o vilão nas relações internacionais é quem se posiciona contra um projeto de guerra. Vilão é o país que ousa discordar, que tenta perder tempo com negociações diplomáticas inúteis, com querelas menores. Vilão são todos, menos os que defendem a guerra. No caso, Estados Unidos e Grã-Bretanha, com a Espanha de Aznar entrando por interesses próprios.
É interessante notar como a prática de propaganda de Goebbels - o marqueteiro de Hitler - também funcionou perfeitamente entre os americanos. A desculpa da guerra ao terror e a ligação de Saddam Hussein com Bin Laden - aquele do 11 de setembro - justificou plenamente o ataque, ainda que não se conseguisse uma prova sequer dessa ligação. A repetição de uma inverdade transforma-a em verdade absoluta, já defendia Goebbels. Aquela história de armas de destruição em massa e alta capacidade militar - num país com 12 anos sob rigoroso embargo econômico! - também convenceu o povo americano, assim como Goebbels convenceu os alemães.
Não podemos também ser ingênuos, acreditando que Saddam Hussein era gente fina e que tratava bem seu povo. Não nos iludamos também com a firme oposição da França à guerra.
final, o país tem US$ 6 bilhões em créditos a receber naquele país. Ou a Rússia de Putin, que tem bem mais, perto de US$ 12 bilhões. Ou a Alemanha, que também deve ter alguma parte.
O que temos que considerar, no entanto, é se esse estrago todo era realmente necessário ou se tudo foi, como se afirma, uma forma de, ao mesmo tempo, desovar estoques de armas e munições, controlar uma região politicamente instável e, mais ainda, controlar o petróleo. Afinal, se França e Rússia tinham interesses econômicos no Iraque, os Estados Unidos quase não tinham. Agora passam a ter. E como!
E como fica o conceito de vilão? Não seria hora de reavaliar os dicionários?
(*) Cláudio Feldens é jornalista
|