A economia brasileira vai crescer neste ano graças à demanda interna e aos investimentos públicos, que compensarão as pressões decorrentes da crise financeira global, disseram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais ministros nesta segunda-feira.
Mas a previsão indica que o país não irá escapar a uma breve recessão, já que o crescimento dificilmente será retomado antes do segundo semestre. A economia brasileira despencou no quarto trimestre de 2008, época do recrudescimento da crise.
"Vamos crescer em 2009 menos do que gostaríamos, menos do que poderíamos crescer se não houvesse crise externa. Mas vamos crescer", disse Lula em conferência de investidores em Nova York.
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à sucessão de Lula em 2010, foi um pouco mais específica. Ela anteviu um retorno ao crescimento no segundo semestre, depois de uma contração de 3,6 por cento no PIB no último período de 2008, que, segundo a maioria dos analistas, se prolongou no começo de 2009.
"Todos os sinais apontam para uma recuperação, ou pelo menos uma redução no declínio e a possibilidade de retomar o crescimento no segundo trimestre e no segundo semestre deste ano", disse Dilma.
As declarações dela contradizem as novas previsões divulgadas na segunda-feira pelo Morgan Stanley, que previu uma retração de até 4,5 por cento em 2009.
Lula rejeitou as previsões do banco, dizendo que Wall Street não conseguiu prever seu próprio futuro, quanto menos o do Brasil. Ele não quis oferecer cifras concretas, mas disse que "certamente" o país irá crescer neste ano se conseguir implementar seu plano de investimentos.
Oferecendo alguns sinais de recuperação, o executivo-chefe da Petrobras, também presente ao evento, disse que a demanda brasileira por combustível voltou a aumentar no primeiro trimestre.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o Brasil ainda terá muita margem de manobra para usar gastos públicos e recursos da política monetária para atenuar as perturbações decorrentes do colapso das finanças internacionais. "Ainda temos muita munição", disse Mantega.
As declarações consolidaram a noção de que o Brasil em breve pode relaxar suas metas de superávit primário, a fim de combater a desaceleração.
ALTERNATIVA SEGURA
Mantega, aliás, aproveitou para convidar os investidores estrangeiros a colocarem seu dinheiro no Brasil.
Ele lembrou que recentemente as autoridades chinesas manifestaram preocupação com a capacidade de crédito dos EUA, já que a China é o maior possuidor externo de títulos do Tesouro, num total superior a 700 bilhões de dólares.
Embora tenha afirmado não ver razão para preocupação com a solidez das finanças dos EUA, Mantega disse também: "Se há alguém preocupado em investir em títulos do Tesouro (dos EUA), há uma alternativa segura e de alta rentabilidade —os títulos brasileiros".
Segundo ele, é importante que os países como os EUA, onde o colapso financeiro começou, se mobilizem rapidamente para lidar com o problema dos títulos "tóxicos" nos balanços bancários. Sem isso, disse ele, o crescimento econômico global deve permanecer sob pressão. "Devemos lidar rapidamente com a fragilidade dos bancos", disse Mantega.
Lula foi além, dizendo que os EUA deveriam superar o tabu das nacionalizações e agir rapidamente para assumir o controle de bancos importantes, se isso for necessário para restaurar o crédito.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que, ao contrário dos bancos dos EUA, as instituições financeiras do Brasil estão bem posicionadas para resistir à crise, por causa da existência de um marco regulatório mais forte e de exigências de capital mais rígidas.
APROXIMAÇÃO COM CUBA?
Além da economia, as relações regionais tiveram destaque nas declarações de Lula. O presidente disse, em um ambiente de investidores, não ver razão para que os EUA mantenham seu embargo a Cuba.
"Não existe mais, do ponto de vista da política, da sociologia ou da racionalidade humana, nada que impeça o restabelecimento de relações com Cuba", disse.
Ele acrescentou que líderes de toda a América Latina esperam que os Estados Unidos evitem uma volta às políticas intervencionistas do passado, e citou a eleição do presidente Barack Obama como uma oportunidade.
Lula e sua equipe manifestaram preocupação com o crescente sentimento protecionista no mundo, dizendo que a tendência de tentar blindar as economias nacionais é natural, mas contraproducente.
Mas, no mesmo fôlego, o presidente evocou o orgulho nacional como uma razão para não comprar um novo casaco, apesar de ter esquecido o seu em Brasília. "Se eu tivesse de comprar alguma coisa, não compraria (na viagem), porque sou um nacionalista, e prefiro comprar no Brasil."
Depois, na entrevista, questionado sobre a possível candidatura de Dilma à Presidência, foi vago. "Eu acho que a Dilma está apta, preparada... para fazer qualquer coisa, para fazer o debate político, para fazer os encontros políticos".