Especial Caso Bruno
A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, da Vara do Tribunal do Júri de Contagem, aceitou nesta quinta-feira a denúncia do Ministério Público contra o goleiro Bruno Souza e mais oito pessoas pelo desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do atleta. Com isso, os nove presos passam a ser réus no processo.
A abertura de processo aconteceu no mesmo dia em que Marixa determinou a prisão preventiva de Bruno, do seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e dos outros sete envolvidos. Nesta tarde, a última pessoa denunciada em liberdade foi presa: Fernanda Gomes Castro, amante do atleta, foi capturada na casa dos pais de Macarrão, em Minas.
Conforme o Tribunal de Justiça (TJ), a juíza determinou que os denunciados apresentem defesa prévia em 10 dias. Em seguida, Marixa poderá dar prosseguimento a outros pedidos de diligência para só depois marcar audiência de instrução. Por enquanto, não há prazo para isso.
Segundo a juíza, ao justificar o recebimento da denúncia, há comprovação indireta da materialidade, por meio de prova técnica, oral e documental. Ela citou o artigo 167 do Código de Processo Penal (CPP) que prevê: "a materialidade delitiva, nos crimes de homicídio em que não foi localizado o cadáver, pode ser comprovada indiretamente". No que se refere aos indícios de autoria, "estes se encontram suficientemente evidenciados", afirmou a magistrada.
A juíza se declarou competente para julgar o caso, em resposta ao pedido da defesa de Bruno para que o processo fosse para a comarca de Vespasiano, onde Eliza teria sido morta. Marixa apontou que várias medidas cautelares como prisões temporárias, buscas e apreensões foram requisitadas pela comarca de Contagem e que, no início da investigação, as suspeitas eram de que o crime teria sido praticado dentro do sítio do bruno, limite das comarcas de Contagem e Esmeraldas.
"E como o corpo não foi encontrado, elemento que, a princípio, poderia nortear sobre o local da infração e, portanto, de competência para julgamento, tem-se que a ação penal deve desenvolver-se no local que facilite a melhor instrução", informou a nota do TJ.
O caso
Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno responderá como mandante e executor do crime. Além dos oito que estão presos, a investigação apontou a participação da atual amante do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, aguarda decisão do Juizado de Menores e pode pegar até três anos de internação.