Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato da Polícia Federal (PF), confirmou nesta quarta-feira (8) ter emitido R$ 7 milhões em notas fiscais frias enquanto trabalhou com ele. Segundo ela, porém, nenhuma das empresas para as quais trabalhava prestou serviços para a Petrobras, durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga irregularidades na estatal.
“Emiti R$ 7 milhões em notas frias. Tenho uma empresa de contabilidade e a exceção foram essas notas”, disse Meire Poza.
A contadora informou ter recebido 3,5% de comissão para a emissão das notas por sua empresa de contabilidade, Arbor Consultoria e Assessoria Contábil, para os negócios do doleiro. “Recebia 7% nas comissões com as notas frias. Na verdade, eram 3,5% porque dividia os recursos com o Enivaldo Quadrado [sócio das empresas de Youssef e condenado no processo do mensalão por lavagem de dinheiro]”, afirmou. O valor chegaria a R$ 245 mil.
Ré confessa
O líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), declarou que vai pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal da contadora, por ela ser parte do esquema comandado por Youssef. “Se é ré confessa de R$ 7 milhões de nota fria, não pode ser tratada como colaboradora”, declarou. Cunha defende que ela seja reconvocada como investigada.
Já o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), sustentou que Meire Poza não poderia ser intimidada na CPMI da Petrobras e que o depoimento dela é muito importante para esclarecer os desvios de dinheiro na estatal.
Segundo o relator da comissão, deputado Marco Maia (PT-RS), a participação de Poza não é de apenas uma contadora, mas de participante da organização. “Muita coisa passou pela mão dela. Ela fazia pagamentos, tomava empréstimos. Com a mesma rapidez que ela prestou as informações, vai se tornar réu também.”
Petrobras
Poza negou que as empresas de Youssef para as quais prestava serviços tinham contratos diretos com empresas públicas, como a Petrobras. “Tinham relação com empreiteiras e não com empresas públicas. Mendes Júnior, Sanko Sider, Engevix, Paranasa, principalmente essas”, explicou.
Segundo a contadora, a Arbor Consultoria e Assessoria Contábil prestou serviço para algumas empresas de Youssef como a GFD, holding que administra hotéis (Aparecida, Porto Seguro e Salvador) e o site webhoteis; Malga Engenharia; Graça Aranha, holding do grupo Marsans (operadora de turismo com 37 lojas).
O salário de Meire Poza seria de R$ 15 mil reais mensais para atender a todas as corporações de Youssef. Ela conheceu o doleiro a partir de Enivaldo Quadrado, condenado no processo do mensalão e que cumpre pena alternativa. “Alberto Youssef só o conheci em setembro de 2012. A informação que eu tive era de que a GFD era de um grupo estrangeiro”, disse.
Meire Poza confirma informações vazadas de depoimento à Polícia Federal
Informações divulgadas pela imprensa do depoimento de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, à Polícia Federal (PF) foram confirmadas durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras nesta quarta-feira (8).
Uma delas seria de que o doleiro Alberto Youssef já teria acertado R$ 25 milhões da parte prometida pelo PT para saldar dívidas de uma empresa dele, a operadora de turismo Marsans, segundo Poza. O dinheiro viria do Postalis, o fundo de pensão dos Correios, por meio de acordo entre PT e PMDB.
“A pessoa do Postalis nomeada pelo PT já havia resolvido [o acordo] e faltava a ponta do PMDB”, disse a contadora. Ela acrescentou que a afirmação de Youssef foi feita em março deste ano, pouco antes de ser preso. Youssef teria vindo a Brasília para negociar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Empréstimo
A empresa de Poza também intermediou o empréstimo de R$ 4 milhões de Youssef com o banco Stock Máxima para pagar salários atrasados de funcionários da Marsans. “Os R$ 4 milhões eram algo urgente”, frisou Poza. Segundo ela, nem a operadora de turismo pagou o que devia a Poza nem ela quitou a dívida com o banco. A contadora também declarou que não foi acionada pelo banco para quitar suas dívidas.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou em 16 de setembro a falência do Grupo Marsans, operadora de turismo que fechou as portas em junho e deixou cerca de 4,5 mil clientes na mão. A decisão foi tomada porque a companhia não apresentou o plano de recuperação judicial no prazo previsto. As dívidas da corporação estão estimadas em R$ 57 milhões.
Parlamentares
Poza também falou do relacionamento de Youssef com parlamentares. Segundo ela, o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) recebeu de presente do doleiro Alberto Youssef um helicóptero no valor de R$ 800 mil.
“Está em nome da GFD. Foi adquirido de uma empresa chamada Cardiomédica. O deputado utilizava o helicóptero. Não foi transferida a titularidade”, afirmou. A informação tinha sido dada em setembro pelo advogado Carlos Alberto Pereira da Costa à Justiça, em um acordo.
Em agosto, Meire esteve no Conselho de Ética da Câmara, onde disse que Argôlo recebeu dinheiro do doleiro e que os dois mantinham “negócios ilícitos”.
A contadora informou ainda que fez pagamentos para familiares de parlamentares. “Fiz pagamento ao deputado André Vargas (PT-PR), que depois eu soube que era do jatinho [emprestado pelo Youssef para uma viagem ao Nordeste]; para familiares do Luiz Argôlo; e outras operações que eu não sei quem são as pessoas”, apontou. A lista com os nomes de cidadãos a quem Poza transferiu dinheiro a pedido de Youssef foi apreendida pela Polícia Federal durante a operação Lava Jato.