Marinho, veja até onde pode ir a paixão política:
Há quase oito anos atrás, quando o senhor se candidatou a prefeito de São Bernardo pelo PT, veio até a minha casa e pediu apoio. Conversamos muito por duas ou três oportunidades quando o senhor me convidou para deixar o PSB e me filiar novamente ao PT. Afinal, concordei com essa mudança, filiei-me ao PT e fiz do senhor prefeito de São Bernardo do Campo.
Hoje as posições se invertem. Por divergências com seu governo, já há muito por mim explicitadas, inclusive em público, eu deixo o PT e procuro outra agemiação para apoiar o Deputado Orlando Morando na disputa para prefeito nas próximas eleições.
Quer dizer, Marinho, que quando se trata do seu interesse, o senhor acha razoável a troca de partido. E quando se trata de apoiar um adversário seu, porque não mais concordo com as suas práticas, o senhor me sobrecarrega com críticas ácidas e injustas.
A visão de mundo e de sociedade a qual faz referência sua nota, aplica-se perfeitamente ao caso. De minha parte, não objetivo uma sociedade sem classes cuja experiência histórica todos sabem no que deu e objetivo, por enquanto, uma sociedade mais justa e que promova o bem estar geral. A sua insistência em empregar um socialismo que não está maduro para acontecer provoca na prática as contradições havidas em seu governo. Veja-se, por exemplo, as constantes relações mantidas em seu governo com ícones econômicos e políticos, em sua maioria, prestigiados pelo ala conservadora do passado e do presente. Seu governo, ao invés de promover as mudanças dessa velha política, acabou fortalecendo o capitalismo selvagem, hoje investigado pela Justiça.
Não há relação mais promíscua do que as que o PT executa, seja no âmbito partidário e também no âmbito de contratação de grandes multinacionais, alvo de investigações que retiram da personalidade nacional o orgulho e a diginidade. O senhor, Marinho, que tenta me acusar de contradições, fala do que lhe é próprio.
O comportamento assumido por V. Exa. contrasta com seu discurso ao perseguir e ameaçar de dispensa sumária os servidores públicos que procuram diálogo com correntes diferentes das suas. O direito de petição e de reunião são resultados constitucionais da luta que foi travada contra as arbitrariedades da ditadura, e razões do surgimento do PT. Hoje esses mesmos direitos que tento pessoalmente exercer, são violados diretamente por V. Exa. O PT, prefeito, como todos os outros partidos, deve ser não uma camisa de força, mas um espaço livre para o exercício das liberdades políticas.
Essas minhas palavras são para o registro da história a que o sr. se refere em sua nota.
Penso, entretanto e por derradeiro, que nossa população não merece presenciar bate-boca da classe política, especialmente neste momento de nosso pais, mergulhado em crise ética, política e econômica.
O debate deve ser propositivo.
Alio-me hoje a outras correntes para ajudar a construir a proposta alternativa a um modelo representado pelo governo local, que acredito estar esgotado.
Meus cumprimentos.
* Maurício Soares é advogado e foi prefeito de São Bernardo do Campo por três mandatos
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