Contra privatização, São Paulo tem 9 linhas de metrô e trem em greve

 

Nacional - 03/10/2023 - 07:30:54

 

Contra privatização, São Paulo tem 9 linhas de metrô e trem em greve

 

Da Redação com Abr

Foto(s): Divulgação / Rovena Rosa / Abr

 

Prefeitura decreta ponto facultativo e suspende rodízio de veículos

Prefeitura decreta ponto facultativo e suspende rodízio de veículos

Contra privatizações do transporte público e do serviço de saneamento em São Paulo, trabalhadores desses setores fazem greve na manhã desta terça-feira (3), paralisando quatro linhas do metrô e três linhas de trem. Duas linhas ferroviárias funcionam parcialmente.

Os ônibus municipais e intermunicipais operam com 100% da frota. Na capital, a SPTrans ampliou os itinerários de cerca de 20 linhas para que os passageiros consigam chegar mais perto de locais com maior concentração de comércio e serviços. 

A presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, disse em assembleia, nessa segunda-feira (2), que a pauta do movimento é o cancelamento de todos os processos de terceirização e privatização no Metrô, na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). 

“E também a realização de um plebiscito oficial junto à população do estado para consultar sobre a privatização dessas três empresas públicas”, destacou.

Para o governo do estado, “a greve é ilegal e abusiva”. “É absolutamente injustificável que um instrumento constitucional de defesa dos trabalhadores seja utilizado por sindicatos para ataques políticos e ideológicos à atual gestão”, diz em nota. O governador Tarcísio de Freitas falará à imprensa em coletiva às 7h.

Decisão judicial

Em decisão na última sexta-feira (29), o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) proibiu a greve total dos trabalhadores do Metrô. Conforme determinação do desembargador Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira, deverá ser assegurada a circulação da frota de 100% dos trens nos horários de pico (das 6h às 9h e das 16h às 19h) e 80% nos demais períodos, sob pena de multa de R$ 500 mil.

O tribunal proibiu ainda a liberação das catracas, solicitada pelos trabalhadores para não prejudicar a população. “A Justiça determinou a manutenção do transporte sobre trilhos em 100% nos horários de pico e 80% nos demais períodos, além de 85% do contingente da Sabesp, sob pena de multas diárias de até meio milhão de reais aos sindicatos. A gestão estadual aguarda que as categorias cumpram as decisões judiciais para que os direitos da população sejam preservados”, acrescentou o governo do estado, em nota.

Também houve determinação judicial para funcionamento da CPTM. A liminar estabelece que os trens devem operar com 100% do efetivo em horários de pico e 80% nos demais períodos. 

Ponto facultativo

A prefeitura da capital paulista decretou ponto facultativo dos serviços municipais e suspendeu o rodízio de veículos nesta terça-feira (3). Está mantido o funcionamento de escolas e creches, unidades de saúde, serviços de segurança urbana, de assistência social, do serviço funerário, e demais serviços essenciais.

O governo de São Paulo também determinou ponto facultativo em todos os serviços públicos estaduais da capital, inclusive na educação e parte do setor de saúde. Os serviços de segurança pública não serão afetados, assim como os restaurantes e postos móveis do Bom Prato, que vão oferecer as refeições previstas normalmente.


Metroviários dizem que privatizar serviços pode encarecer tarifas

Também são reivindicadas melhores condições de trabalho

Publicado em 03/10/2023 - 08:30

Os funcionários da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) realizam hoje (2) greve unificada para reivindicar melhores condições de trabalho e contestar a privatização dos serviços. Eles denunciam que transferir o controle do poder público para a iniciativa privada deve encarecer tarifas e piorar a qualidade dos serviços.

Na estação Barra Funda, onde é possível embarcar em linhas de trem, ônibus e metrô, lideranças de movimentos que apoiam a greve se organizaram para traduzir à população da capital paulista o que significa a privatização e informar os motivos da greve. Somente pelo metrô da Barra Funda transitam, em média, cerca de 60 mil passageiros por hora, em momentos de pico.

"Não existe greve ilegal. Não é só por direitos, é por melhoria de serviços. Rico não trabalha, pobre trabalha. A pobreza enriquece o país e não tem o direito de circular no país", discursou uma liderança popular ao microfone, em meio a alguns protestos de transeuntes que demonstraram irritação e incompreensão quanto à greve.

Contra a privatização

Raquel Brito, que integra o diretório da Unidade Popular na capital, afirmou à Agência Brasil que a mobilização no local e em outros endereços, junto à população, tem por objetivo esclarecer que todos perdem com a privatização e que todos estão do mesmo lado da história. "As empresas públicas são patrimônio. Privatizar é muito ruim, inclusive para os usuários. A empresa privada tem como meta o lucro e isso faz com que o serviço piore e a tarifa aumente. A greve é um instrumento histórico de luta e tudo que se conseguiu de direitos foi por meio dela", argumentou.

A operadora de máquinas fixas Genilda Matos, empregada em uma fábrica de produção e manutenção de equipamentos cirúrgicos, sabia que haveria paralisação do transporte nesta terça-feira e que parte das linhas estaria funcionando normalmente, mas não que a linha que pega todos os dias estaria indisponível. Ela mora zona norte e trabalha em Vila Prudente, utilizando sempre três linhas de ônibus e uma de trem para se deslocar de casa ao trabalho. "Não tenho como trabalhar de casa e também não sei chegar de ônibus ao trabalho. Mas meu patrão entende a situação", explicou. 

Questionada sobre sua posição quanto à privatização, Genilda demonstra surpresa. "O que é privatização? Sobre isso, não sei nem o que responder." Quando a reportagem explica o possível efeito da desestatização, ela faz sua avaliação rapidamente: "É isso não é bom mesmo."

Linha vermelha paralisada

A técnica em farmácia Denise da Silva faz o percurso de casa, no município de Barueri, até o trabalho, no bairro da Penha, na capital, através da linha vermelha do metrô, hoje paralisada, levando duas horas para completar o trajeto. "Sei que os trabalhadores precisam ter melhores salários e melhor serviço, mas a greve prejudica a gente também. Acho que, se houvessem outras alternativas para se fazer isso [a reivindicação], seria bom", disse ela, que acrescenta que conhece pessoas que dependem das linhas de transporte já privatizadas, como a 8 e a 9 do trem, e relatam ter problemas diários como a lentidão. Além disso, ela reconhece que há chances de a privatização aumentar a tarifa dos serviços. 

A técnica de enfermagem Eni Duarte reside em Itapevi e vai também, todos os dias, até a Penha, de transporte público. O tempo médio que gasta fazendo o trajeto é de uma hora, entre uma linha de trem e outra de metrô. Ela se diz a favor da greve e contra privatização. 

"Porque você privatizando, a tarifa acaba aumentando. Por exemplo, a energia elétrica. Com a privatização, acaba saindo do nosso controle. Não dos empresários, mas da gente, sim", observou.

"A greve é uma forma de luta, e a população não entende. As pessoas não procuram saber a causa da greve. Claro que, quando subir a tarifa, vão procurar saber. Aí, já é tarde. O brasileiro não procura se mobilizar coletivamente", finalizou.

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