O deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou, durante entrevista realizada na noite desta segunda-feira ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que a corrupção no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é maior que o esquema montado por PC Farias durante a gestão de Fernando Collor, que teve de renunciar à Presidência da República após enfrentar um processo de impeachment. Jefferson mais uma vez acusou o ex-ministro José Dirceu de ser o mentor do atual "mensalão", supostamente operado pelo secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, dentro de um "grande esquema de corrupção nas estatais". O petebista também citou o deputado João Pizzolatti (PP-SC), ex-presidente da Comissão de Infra-Estrutura da Câmara, como um dos gestores da estrutura de distribuição de dinheiro a parlamentares em troca de fidelidade política.
De acordo com o entrevistado, a prática de pagar parlamentares foi "importada" da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro pelo deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ). "Sei que Valdemar (Costa Neto, presidente do PL), desde o início, e o Bispo Rodrigues implantaram o mensalão no PL. Essa prática do mensalão vem do Bispo Rodrigues desde a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro", declarou. Jefferson acredita que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, acusado de envolvimento na prática, foi "impregnado" pelo PL.
Depois de tomar conhecimento da entrevista, Rodrigues se disse "vítima de preconceito" por ser evangélico e afirmou que fará sua defesa em plenário nesta terça-feira. O parlamentar nega ter montado esquema de propina no Rio e disse desconhecer o publicitário Marcos Valério, acusado por Jefferson de levar dinheiro do "mensalão" a líderes do PL e PP durante o atual governo. Rodrigues era um dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus até 2004, quando se desligou da cúpula.
Sobre a alegada participação de Pizzolatti, Roberto Jefferson disse que o pepebista realizava, de tempos em tempos, "um café da manhã" na Comissão de Minas e Energia (na época presidida por José Janene (PP), outro alvo das acusações de Jefferson) para entregar a "mesada" de deputados. O deputado também atacou o PSDB, alegando que o PTB repassou recursos para custear a primeira campanha de Fernando Henrique Cardoso à presidência, sem que houvesse a declaração total do dinheiro à Justiça Eleitoral. Jefferson afirmou ainda que os tucanos também apoiaram o PTB financeiramente sem prestar contas.
Além de ampliar seu leque de denúncias, Roberto Jefferson manteve a linha das últimas entrevistas e depoimentos e centrou fogo em José Dirceu, o qual irá enfrentar nesta semana, quanto o petista retomar sua cadeira na Câmara dos Deputados. Para o presidente nacional licenciado do PTB, Dirceu era o presidente de fato, com Genoino de vice. O ex-chefe da Casa Civil teria desenhado pessoalmente o esquema no Planalto, de maneira mais consistente que a armada pelo ex-tesoureiro de Collor. A armação de PC Farias seria "menor, malfeita, às claras, com o rabo de fora".
Referindo-se à inevitabilidade de reafirmar as denúncias perante a Dirceu no Congresso, o petebista garantiu que está pronto para uma acareação com ele. Entretanto, disse que tem pânico de Dirceu, "pois ele é um homem sem coração", ironizou. Roberto Jefferson voltou a poupar Lula dos ataques, dizendo que a recente demissão de Dirceu seria prova da inocência do presidente. Ele também declarou que o PTB prosseguirá na base de apoio do governo, apesar de suas denúncias.
O deputado deu mais detalhes sobre o referido "mensalão", dizendo que o governo utilizava a estrutura da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) para efetuar contrato de "correio aéreo" superfaturado em 300%, no qual a cotação do dólar seria superestimada, apesar de sua desvalorização. Jefferson insistiu que, além dos Correios, o Departamento Nacional de Infra-estrutura Terrestre (DNIT) também deve ser investigado.
A respeito do acordo no qual o PTB receberia R$ 20 milhões do PT para financiar a campanha eleitoral em 2004, o parlamentar disse que recebeu uma parcela de R$ 4 milhões, que está guardada em um cofre particular. "Eu assumo. Está comigo. Recebi como pessoa física, não há recibo de doação. Eu pedi contribuições legais, com recibos, como doações. Se o PT me der o recibo, eu retifico. Se não, eu assumo pra mim", afirmou. "Não sou um corrupto", mas admitiu que o sistema é e que corrompe. "A mim o sistema já sujou", revelou.
O deputado disse ainda que o sistema do "mensalão" abasteceu a base aliada do governo durante muito tempo. "Era uma política pensada. É muito mais fácil pagar aluguel aos deputados do que discutir projetos", disse.
Jefferson questionou os entrevistados, acusando-os de não ter conhecimento sobre da origem do recurso para as campanhas políticas no Brasil e chamou o local de um convento. O deputado voltou a afirmar que discutiu sobre o mensalão numa reunião informal da bancada do PTB e que o partido decidiu não fazer parte do esquema.
O deputado revelou ainda como seria feita a concessão de cargos de chefia pelo PT desde que assumiu o governo. A Petrobras, Eletrobrás e fundos de pensão abrigariam os postos mais cobiçados. "Quando a nomeação era feita ao PTB, o cabeça assumia, mas toda a estrutura e o corpo embaixo era feita pelo Silvio e pelo Delúbio Soares", garantiu. Quanto às licitações em curso, admitiu: "Essas eu não sei se estão viciadas. A parte técnica eu não sei", disse.
"Sempre sugeri que os indicados pelo PTB seguissem três pontos. Primeiro, tenham em mente o interesse da empresa pública, segundo, da empresa privada que atua com a pública e em terceiro os interesses do partido. Andem pela linha amarela, nunca pela vermelha", afirmou.
Sobre a negativa do PT acerca de suas denúncias envolvendo a ocorrência do "mensalão" e como se defenderá para provar a existência do esquema, Jefferson rebateu: "Vocês estão desmontando isso. A imprensa está desmontando isso, vocês estão fazendo isso e provando que há "mensalão". Eu leio jornais e revistas diariamente e estou vendo isso".
Ao ser perguntado onde pretende chegar com as denúncias, Jefferson afirmou já ter alcançado seu objetivo. "A comissão parlamentar de inquérito está instalada. Nós vamos apurar agora", disse. "Eu sou apenas o porta-voz de um sentimento que há hoje no Brasil. Sei que o governo sai fortalecido, mas isso acontece em momentos de crise. O País vai chegar a momento muitos melhores, mas antes haverá muitas reformas", finalizou.
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