O juiz João Carlos da Rocha Mattos, 57 anos, que está preso há um ano e onze meses, sob a acusação de vender sentenças judiciais, disse à revista Veja que o secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, é a chave para elucidar o assassinato de Celso Daniel, o prefeito petista de Santo André morto com sete tiros em janeiro de 2002.
Rocha Mattos afirmou o que ouviu em 42 fitas cassete que, gravadas entre janeiro e março de 2002, continham registros de diálogos telefônicos trocados entre os personagens do caso. "Ele comandava todas as conversas, dava orientações de como as pessoas deviam proceder. E mostrava preocupação com as buscas da polícia no apartamento de Celso Daniel", disse o juiz.
Gilberto Carvalho afirmou que "repudia com veemência" as acusações, promete que vai processar Rocha Mattos e informa que tem notícia de que há gravações montadas com sua voz, com o objetivo de incriminá-lo. Diz ele: "Nós, os amigos de Celso Daniel, não somos acusados, somos vítimas".
Segundo o juiz, há telefonemas em que o secretário de Lula pede à então namorada de Celso Daniel, a socióloga Ivone de Santana, que concedesse entrevistas à imprensa e não esquecesse de se mostrar emocionada com a morte do prefeito. As conversas gravadas, diz o juiz, traziam até recados enigmáticos de moradores de uma favela de Santo André, hoje suspeitos de terem sido contratados para matar o ex-prefeito. "Os recados eram deixados na caixa postal do telefone de Gilberto Carvalho", afirma o juiz. "Ele comandava praticamente tudo".
Não é a primeira vez que Gilberto Carvalho aparece envolvido no caso de Santo André. Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado, já disse em mais de uma ocasião que ouviu o próprio Gilberto Carvalho admitir que havia um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André ¿ esquema que teria sido a causa da morte do prefeito. Gilberto Carvalho sempre negou que tenha feito tal confissão.
Como quase tudo na investigação da morte de Celso Daniel, há versões e contraversões. Rocha Mattos não oferece provas do que diz, mas é certo que teve acesso efetivo às 42 fitas. Na condição de juiz, ele recebeu a incumbência de esclarecer se elas tinham sido clandestinamente gravadas por agentes da Polícia Federal, conforme denunciara o Ministério Público Federal.
Rocha Mattos concluiu que as fitas eram ilegais, pois a PF inventou uma investigação fajuta para conseguir fazer as gravações, e mandou que fossem destruídas - a incineração ocorreu em março de 2003, quando Lula já era presidente e Carvalho, seu secretário particular. Mais tarde, depois da destruição das fitas originais, apareceu um conjunto de cópias nas mãos de uma juíza, que o enviou a Rocha Mattos. O juiz então guardou as cópias, mas diz que, depois de ser preso pela Polícia Federal, elas desapareceram. Estavam na casa de sua ex-mulher, Norma, que também foi presa.
As acusações que lança contra Gilberto Carvalho são a terceira contribuição de Rocha Mattos ao caso de Santo André. Ele já indicou à Justiça duas testemunhas-chave do crime: uma mulher, cujo nome se mantém em sigilo, que diz ter testemunhado o seqüestro e presenciado o comportamento cúmplice de "Sombra" (apelido do empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do assassinato), e um homem, hoje preso e também mantido no anonimato, que denunciou com antecedência que Celso Daniel (e também Toninho do PT, morto em 2001) seria assassinado.
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