O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, apresenta nesta segunda-feira ao governo chinês as desculpas do Brasil pelo envio de carregamento de soja contaminada ao país. O governo brasileiro promete endurecer a fiscalização para evitar que novos incidentes como o ocorrido voltem a acontecer.
"Vou dizer que lamento profundamente o erro cometido por agentes econômicos brasileiros, vou mostrar que foi um caso excepcional, que estamos investigando rigorosamente, e os culpados serão punidos quando descobertos", disse Rodrigues a jornalistas no domingo, durante inauguração do escritório da Petrobras em Pequim.
A exportação de soja brasileira foi alvo de fortes críticas do governo chinês após o envio de cinco navios que saíram do porto de Rio Grande (RS) com soja quimicamente tratada para o plantio e não para o consumo.
Segundo Rodrigues, dos cinco navios, dois chegaram à China, um voltou ao Brasil por determinação do governo brasileiro e um não tinha sementes contaminadas. Um quinto navio ainda está a caminho, mas deve parar em algum porto para ter sua carga inspecionada antes de chegar à China.
O Ministério da Agricultura disse que as empresas Nobel Grain, Cargill, Bianchini, Irmãos Trevisan, ADM do Brasil e Dreyfuss são responsáveis pelo carregamento total de soja enviada à China nesses navios. De acordo com Rodrigues, porém, ainda não se sabe se todas serão responsabilizadas pela carga contaminada.
Rodrigues afirmou que pretende dizer ao governo chinês que o Brasil ficou extremamente aborrecido com o incidente e que o problema não se repetirá. O ministro da Agricultura e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, reúnem-se com as autoridades chinesas nesta segunda-feira para tratar do caso.
Além das garantias de endurecer na fiscalização, o que incluiria a checagem do produto antes do embarque nos navios, o Brasil deve fechar um acordo fitossanitário com a China para fixar regras claras nesta questão.
"O governo chinês está incomodado", admitiu o ministro. "Eles disseram que isso é inaceitável e que, se o problema prosseguir, poderiam cortar o Brasil do rol dos exportadores", disse Rodrigues. O ministro acredita, no entanto, que o episódio pode ser contornado durante a visita oficial.
Para alguns analistas do mercado de soja que acompanham os empresários do setor na viagem à China, vale lembrar, contudo, que os chineses estão se aproveitando do incidente para fazer com que o preço do produto comprado no Brasil diminua. Os representantes do governo chinês, porém, garantem que a China busca apenas qualidade.
DIA DE GRANDES ACORDOS
Em seu primeiro dia de visita oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fechar com o governo chinês 24 acordos comerciais.
No domingo, durante inauguração do escritório da Petrobras em Pequim, Lula divulgou o primeiro deles: um acordo de cooperação entre a estatal brasileira e a similar chinesa Sinopec para exploração de petróleo em águas profundas. Outros acordos esperados para esta segunda-feira são o da Telemar com a China Telecom e a China Mobile para operação telefônica internacional e da Vale do Rio Doce com a Baosteel.
A Vale, que atua no mercado chinês há mais de 20 anos, tem um acordo de longo prazo com a empresa chinesa, mas vai fechar mais cinco contratos na área de siderurgia e carvão.
Nesta segunda-feira, Lula também recebe as boas-vindas oficiais do governo chinês, com cerimônia no Grande Palácio do Povo, na Praça da Paz Celestial, onde será recebido pelo presidente chinês, Hu Jintao.
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