Desde sua descoberta, sua história é povoada pelas mais incríveis lendas. Justamente por isso, a Caverna do Diabo é um lugar que merece ser visitado pessoalmente. A apenas 280 quilômetros de São Paulo, no município de Eldorado, não é totalmente aberta à visitação pública. Dos 3 mil e 200 metros de extensão da caverna, apenas 400 metros estão livres para os turistas. Esta área dispõe de sistema de som e luz, passarelas, escadas e corrimãos. A longa estrada de terra que conduz à caverna e os sobes e desces em seu interior, constitui, sem dúvida, uma aventura para quem tem fôlego.
A entrada da caverna fica a 500 metros de altitude e, lá dentro, o cenário é surpreendente. Curiosas estalactites, estalagmites, cortinas de pedras e cascatas de calcita intrigam especialistas e turistas que tentam desvendar os mistérios do lugar. As estalactites se formaram com a penetração da água no solo e, posteriormente, na camada de calcário, até atingir o teto da caverna. As estalagmites se elevam do solo, numa proporção estimada em três centímetros por século, o que justifica a preocupação dos guias e guardas da caverna com a degradação de seu interior.
De um lado ao outro da caverna registra-se um desnível de 150 metros, o que impossibilita o acesso de pessoas inexperientes na maior parte de sua extensão. Somente espeleólogos têm permissão para ultrapassar os limites pré-determinados. As formações mais interessantes podem ser vistas no salão conhecido como Catedral. A beleza do lugar dá asas à imaginação. Talvez, por isso, algumas dessas formas ficaram eternizadas com nomes um tanto quanto estranhos: Cabeça de Ema, Guardião, Galeria dos Órgãos, Pia Batismal, Branca de Neve, Cemitério, Perfil de Buda, Reis Magos, Templo Perdido, Caldeirão do Diabo e Torre de Pisa.
Passando por esta galeria atinge-se um lago de águas represadas do Ribeirão das Ostras. À direita está o setor superior, aberto aos turistas. E descendo, à esquerda, acredita-se que há um incrível e sinistro labirinto com cerca de cinco mil metros de corredores e galerias subterrâneas na mais profunda escuridão. Neste trecho, que parece conduzir ao centro da Terra, é proibida a entrada, pois o terreno é extremamente acidentado e perigoso.
Outras coisas fascinantes podem ser vistas lá em baixo, num percurso, ora dentro das águas do ribeirão, ora nas rochas. São cachoeiras, lençóis de água e o lago do Silêncio, com 200 metros de extensão. Em alguns momentos, para se ultrapassar os obstáculos, é necessário o uso de cordas até ter a certeza de estar pisando em solo seguro. Dentro da caverna, o silêncio só é quebrado pelas águas que deslizam pelas rochas. Mas, lá dentro, o som é diferente. No interior da caverna tem-se a impressão de estar no maior lugar do mundo e, ao mesmo tempo, no menor cantinho, prestes a desabar. No ar sente-se o cheiro do perigo.
Três parques numa única viagem
O Parque “Carlos Botelho” integrou-se ao Parque Estadual de Intervales, administrado pela Fundação Florestal, e ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), gerenciado pelo Instituto Florestal, para criar o Roteiro Turístico dos Parques da Serra de Paranapiacaba.
O objetivo é dar ao ecoturista a oportunidade de, numa mesma viagem, conhecer as três unidades, situadas na mesma região. “O visitante pode conhecer o núcleo de cavernas do Petar, aproveitar a ótima estrutura hoteleira do Intervales e buscar um contato mais íntimo e rústico com a natureza no Carlos Botelho”, disse José Luiz Maia. Ele considera que, em termos ambientais, um parque completa o outro.
Petar - O Petar tem 40 mil hectares e oferece quatro núcleos de visitação que levam à maior concentração de cavernas da América do Sul. São mais de 250 grutas e cavernas já catalogadas, entre elas a do Santana, uma das mais amplas do Estado. A caverna é percorrida pelo Rio Roncador, onde vive o bagre-cego, um peixe albino extremamente raro.
Suas galerias são repletas de estalagmites e estalactites. A Trilha do Morro Preto leva à Cachoeira do Couto e à caverna com o mesmo nome. Após uma caminhada íngreme, de 200 metros, chega-se à Gruta do Morro Preto. A Trilha do Betary percorre o leito desse rio, com dezenas de cachoeiras e piscinas naturais ao longo de 3,6 quilômetros. O Petar tem local para barracas.
Intervales - O Parque Estadual de Intervales tem 49 mil hectares e cerca de 300 espécies de aves catalogadas. Como era uma antiga fazenda, possui uma estrutura hoteleira com piscina, áreas para convenções e reuniões, restaurante e quadra de esportes. Tem também alojamentos para pesquisas científicas. A sede fica a 860 metros de altitude e o clima é muito agradável. As trilhas possibilitam longas caminhadas pela mata. Uma delas leva à Gruta Colorida, com amplos salões repletos de espeleotemas.
Parque Carlos Botelho - O Parque Estadual Carlos Botelho é uma reserva de Mata Atlântica com 37,6 mil hectares, último refúgio no Estado de São Paulo do mono-carvoeiro, o maior primata americano. A biodiversidade da reserva, que vem sendo protegida desde a década de 20, levou a Unesco a reconhecê-la, em novembro do ano passado, como sítio do patrimônio mundial natural e hoje transformou-se em “laboratório” de biólogos, pesquisadores e cientistas.
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