O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, na abertura da 59.ª Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que a construção da paz passa por uma nova ordem internacional. Lula conclamou os 191 países membros da ONU a lutarem pela reforma do modelo de desenvolvimento global e defendeu o multilateralismo das instituições.
“Constato, com preocupação, que persistem graves problemas de segurança, pondo em risco a estabilidade mundial”, disse, ao citar a situação do Oriente Médio. Ele argumentou ainda que o combate ao terrorismo não pode ser concebido apenas em termos militares. “Uma ordem internacional fundada no multilateralismo é a única capaz de promover a paz e o desenvolvimento sustentável das nações”, insistiu.
Lula disse que continua a existir no mundo o colonialismo “econômico e social” perpetuado pelas regras comerciais. “O fim do colonialismo afirmou, na esfera política, o direito dos povos à autodeterminação e esta Assembléia (da ONU) é o signo mais alto de uma ordem fundada na independência das nações.” “A transformação política, contudo, não se completou no plano econômico e social. Barreiras protecionistas e outros obstáculos ao equilíbrio comercial, agravados pelas concentração dos investimentos, do conhecimento e da tecnologia, sucederam-se ao domínio colonial”, disse o presidente.
Lula fez o discurso de abertura, ontem, dos debates da 59.ª Assembléia Geral da ONU. Tradicionalmente é o Brasil quem abre a sessão. O presidente fez um discurso focado na necessidade de justiça social relacionando à segurança internacional com o desenvolvimento econômico das nações pobres.
Embora não tenha se referido diretamente à demanda do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, Lula fez uma defesa vigorosa da reformulação do órgão.
“Nenhum organismo pode substituir as Nações Unidas na missão de assegurar ao mundo convergência em torno de objetivos comuns”, disse. “Só o Conselho de Segurança pode conferir legitimidade às ações no campo da paz e da segurança internacionais, mas sua composição deve adequar-se à realidade de hoje e não perpetuar a do pós-Segunda Guerra.”
Por sua vez, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, exaltou o multilateralismo e defendeu um mundo em que a força emane do direito, em nova condenação à política dos EUA no Iraque. “Em tempos difíceis, as Nações Unidas são o indispensável lugar comum de toda a família humana”, disse, antes de George W. Bush falar.
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