A partir deste mês (11 de julho de 2025), o governo federal começa a aplicar as novas regras do IPI Verde (Imposto sobre Produtos Industrializados Verde), uma política fiscal que visa incentivar a produção e compra de veículos menos poluentes no Brasil. A medida, prevista desde 2023, foi oficialmente implementada após regulamentação publicada no Diário Oficial da União e já afeta diretamente fabricantes, importadores e consumidores de automóveis.
O Decreto nº 12.549/2025, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reduz as alíquotas de IPI dos carros mais leves e econômicos, movidos a energia limpa e que atendam aos requisitos de reciclabilidade e segurança. O texto foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta-feira.
O IPI Verde estabelece alíquotas variáveis de acordo com a eficiência energética e ambiental dos veículos. Na prática, quanto menos poluente o carro, menor será a carga tributária. Veículos 100% elétricos, por exemplo, podem ter isenção total ou IPI reduzido a até 1%, enquanto modelos com altas emissões de CO₂ podem ser taxados em até 20%.
“É uma transformação que alinha o Brasil às principais tendências globais da mobilidade sustentável. Ao atrelar o imposto ao impacto ambiental, o governo estimula tanto a inovação quanto o consumo consciente”, explica Luiz Gustavo Pinheiro, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Como funciona o IPI Verde?
O cálculo do novo imposto considera múltiplos critérios técnicos, como:
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Emissões de CO₂ por quilômetro rodado
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Tipo de combustível
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Consumo energético
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Peso e eficiência do motor
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Presença de tecnologias sustentáveis (como start-stop ou frenagem regenerativa)
A base de dados usada é a do Programa Rota 2030, criado para promover a modernização da indústria automotiva nacional. O novo modelo substitui o antigo IPI fixo, considerado obsoleto e insensível às questões ambientais.
Impactos no setor automotivo
Montadoras terão que acelerar a eletrificação de seus portfólios e repensar projetos para atender aos novos critérios. Especialmente afetadas estão empresas com foco em SUVs e picapes movidas a combustíveis fósseis, que hoje representam boa parte das vendas no país.
“O desafio está no prazo de adaptação. Nem todos os fabricantes têm escala ou tecnologia para atender de imediato à exigência do novo IPI”, afirma Paula Koga, diretora da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Já marcas que apostam em veículos híbridos e elétricos, como BYD, GWM e Toyota, devem sair na frente. As chinesas, inclusive, já anunciaram planos de expandir a produção local para aproveitar os incentivos.
Quem se beneficia entre os eletrificados?
Entre os modelos atualmente disponíveis no mercado brasileiro, os híbridos flex fabricados no país estão entre os que mais se beneficiam com a nova política. É o caso do Toyota Corolla Altis Hybrid, produzido em Indaiatuba (SP), e do Toyota Corolla Cross Hybrid, fabricado em Sorocaba (SP). Ambos utilizam uma combinação de motor flex com motor elétrico, e, segundo os critérios técnicos do decreto, podem obter redução de até 3,5 pontos percentuais no IPI.
Outra montadora bem posicionada é a GWM, que prepara a produção dos modelos Haval H6 HEV e PHEV em Iracemápolis (SP). Com motorização híbrida e previsão futura de operação com etanol, os modelos da GWM incorporam tecnologias de eficiência energética e segurança, o que os aproxima do conceito de “veículo sustentável” definido pela nova regulamentação.
A BYD, por sua vez, está nos estágios iniciais de nacionalização da produção. A montagem dos modelos Dolphin Mini, Song Pro e King começa em breve na fábrica de Camaçari (BA), ainda sob regime SKD (veículos parcialmente desmontados), mas com promessa de maior conteúdo nacional até 2026. Caso o cronograma se concretize, a marca poderá obter os benefícios do IPI Verde, ao unir motorização eletrificada, fabricação local e bom desempenho ambiental.
Para o consumidor, o que muda?
O efeito nos preços ainda é incerto. Modelos “verdes” tendem a ficar mais baratos com a redução do imposto, enquanto carros com motor a combustão menos eficientes podem ter aumento de preço nas concessionárias.
Além disso, a política pode impulsionar o mercado de usados híbridos e elétricos, que ganha atratividade com incentivos paralelos, como IPVA reduzido e financiamento especial.
O Brasil no mapa global da mobilidade verde
Com o IPI Verde, o Brasil dá um passo importante rumo à transição energética no setor automotivo. A medida também pode atrair investimentos internacionais e aproximar o país dos compromissos de descarbonização firmados no Acordo de Paris.
“É uma política ambiciosa, mas necessária. O IPI Verde pode posicionar o Brasil como protagonista regional na indústria limpa”, avalia Cristiane Moura, pesquisadora da FGV Energia.
* Com informações e fontes consultadas:
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Ministério da Fazenda
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Diário Oficial da União (publicação de julho de 2025)
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Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI)
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Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
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FGV Energia
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Programa Rota 2030
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Análises de mercado do setor automotivo