"> Bolívia em encruzilhada: Eleição presidencial traz incertezas econômicas e guinada à direita

 

Internacional - 17/08/2025 - 07:55:41

 

Bolívia em encruzilhada: Eleição presidencial traz incertezas econômicas e guinada à direita

 

Da Redação .

Foto(s): Divulgação / Flickr

 

Em manifestação na Praça Murillo, centro do poder em La Paz.

Em manifestação na Praça Murillo, centro do poder em La Paz.

A Bolívia vive um momento decisivo. Neste domingo, 17 de agosto de 2025, o país elege seu novo presidente e renova o Parlamento em um pleito marcado por uma profunda crise econômica e uma inédita fragmentação do campo político de esquerda. As pesquisas de intenção de voto indicam uma forte inclinação para a direita, com candidatos que prometem reverter o modelo estatista que dominou as últimas duas décadas. No entanto, a alta porcentagem de eleitores indecisos, cerca de 23%, adiciona uma camada de imprevisibilidade que mantém o mercado em alerta.

A eleição acontece em um contexto de severas dificuldades econômicas. A inflação atingiu patamares históricos, a escassez de combustíveis e alimentos se tornou um problema recorrente e as reservas cambiais do Banco Central Boliviano estão em declínio acentuado. A desaprovação ao governo do atual presidente Luis Arce, junto com a disputa interna com o ex-presidente Evo Morales, esvaziou a força do Movimento ao Socialismo (MAS) e abriu espaço para a ascensão da oposição.

Os Candidatos e o Cenário Político

A disputa presidencial se concentra em dois principais nomes da direita e um da esquerda. O empresário e ex-ministro Samuel Doria Medina, da Aliança Unidade, e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Libre, lideram as pesquisas. Ambos defendem uma agenda de liberalização econômica, buscando atrair investimentos privados, reduzir o peso do Estado na economia e realinhar a política externa do país.

Do lado da esquerda, o candidato oficial do MAS, Eduardo del Castillo, ex-ministro do governo Arce, não conseguiu mobilizar o eleitorado e patina nas pesquisas. A divisão na base de apoio do MAS é um fator crucial, com Evo Morales pedindo abertamente o voto nulo, um gesto que reflete a disputa de poder entre as facções "arcistas" e "evistas" e que pode influenciar significativamente o resultado final, diluindo o voto da esquerda.

Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa obter mais de 50% dos votos válidos, ou 40% com uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado. As sondagens mais recentes sugerem que um segundo turno, marcado para 19 de outubro, é o cenário mais provável.

Análise da Semana: Uma Eleição em Aberto

A última semana de campanha foi marcada por um esforço frenético para conquistar o grande contingente de eleitores indecisos. A análise do mercado e dos especialistas aponta para as seguintes tendências:

Quadro Comparativo Semanal

Candidato (Aliança) Votos Indecisos Tendência Fatores de Influência
Samuel Doria Medina (Unidade) Alta % Estável a ligeiro crescimento Foco em promessas de "100 dias" para estabilizar a economia. Visto como o candidato mais pragmático e com maior credibilidade empresarial.
Jorge "Tuto" Quiroga (Libre) Alta % Estável Recorrente no cenário político, sua experiência como ex-presidente atrai eleitores que buscam liderança conservadora e estabilidade.
Eduardo del Castillo (MAS) Média % Estável Não consegue capitalizar a base do MAS, impactado pela rivalidade entre Arce e Morales. Votos podem se fragmentar entre outros candidatos de esquerda ou se tornar nulos.

Análise Interpretativa

A semana que antecedeu o pleito reforçou a percepção de que os candidatos da direita conseguiram capturar o sentimento de insatisfação popular com a gestão econômica do governo atual. Doria Medina, em particular, se beneficiou da imagem de empresário capaz de "arrumar a casa", capitalizando a aversão à crise de abastecimento e inflação.

A principal incerteza, e o grande fator de influência, reside nos votos nulos e na porção de eleitores que ainda não se decidiram. A convocação de Evo Morales para o voto nulo pode, paradoxalmente, beneficiar os candidatos de direita, já que esses votos representam uma fuga do eleitorado tradicional do MAS que não se alinha com a candidatura de del Castillo. O resultado final dependerá de como esses votos “perdidos” ou “protesto” se distribuirão.

Impacto no Mercado: Cautela e Expectativa de Mudança

O mercado boliviano, embora de dimensão reduzida no cenário global, reage com cautela à volatilidade política. Nos últimos dias, observou-se uma leve valorização de títulos de dívida do governo, impulsionada pela perspectiva de uma guinada à direita que poderia sinalizar a adoção de políticas mais ortodoxas e o fim do modelo de gastos públicos insustentáveis.

Contudo, a incerteza do resultado de primeiro turno impede movimentos mais agressivos. A Bolsa de Valores Boliviana (BVB) registrou estabilidade, com o volume de negociações permanecendo baixo. Analistas financeiros apontam que um eventual segundo turno traria um período de maior volatilidade, até que o resultado final seja conhecido.

Um governo de direita no país poderia sinalizar uma política de privatizações, corte de subsídios estatais e, o mais importante, uma aproximação com organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial para renegociar a dívida e obter capital de giro. Essa perspectiva, no entanto, também carrega o risco de protestos sociais e instabilidade interna.

Apesar da possível vitória da direita, a governabilidade pode ser um desafio. O novo presidente, seja ele Doria Medina ou Quiroga, terá a tarefa de lidar com uma economia fragilizada e um parlamento possivelmente dividido. A capacidade de formar alianças e implementar reformas estruturais será o verdadeiro teste.

Tabela: Dados Essenciais da Eleição Boliviana

Aspecto Detalhes
Data do Pleito Domingo, 17 de agosto de 2025
Eleitores aptos Cerca de 7,9 milhões
Cargos em disputa Presidente, Vice-Presidente, 130 Deputados e 36 Senadores
Condições de vitória (1º turno) Mais de 50% dos votos ou 40% com 10 pontos de vantagem sobre o 2º colocado
Data do possível 2º turno 19 de outubro de 2025

* Com informações das fontes: Fitch Solutions, Canning House, América Quarterly, Al Jazeera e AS/COA.

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