O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem protagonizado um novo capítulo de tensão com o Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão sediado em Haia responsável por julgar crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio e crimes de agressão. Desde o início de 2025, Trump intensificou uma ofensiva de sanções contra o tribunal e seus membros, em reação a investigações conduzidas pelo TPI que envolvem cidadãos norte-americanos e aliados estratégicos, especialmente líderes israelenses.
Sanções e retaliações
No dia 6 de fevereiro de 2025, Trump assinou uma ordem executiva impondo sanções econômicas e restrições de viagem contra juízes, promotores e funcionários do TPI envolvidos em investigações contra indivíduos ligados aos EUA e a Israel. A medida consiste no congelamento de bens nos Estados Unidos e na proibição de entrada no país das pessoas sancionadas e seus familiares. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, qualificou o tribunal como "uma ameaça à segurança nacional" e um "instrumento de guerra jurídica" contra os Estados Unidos e Israel.
Entre os sancionados estão Nicolas Yann Guillou (França), juíz responsável pela emissão de mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant; Kimberly Prost (Canadá), juíza que autorizou investigações do TPI sobre militares dos EUA; e os promotores Nazhat Shameem Khan (Fiji) e Mame Mandiaye Niang (Senegal), ambos mencionados por apoiarem ações contra Israel. Essas sanções ampliaram-se em agosto de 2025, refletindo a escalada da retaliação norte-americana.
Contexto e impacto
O TPI não é um órgão do qual os Estados Unidos fazem parte; no entanto, desde sua criação em 2002, o tribunal busca responsabilizar indivíduos por atrocidades quando estados membros não o fazem. A ação de Trump representa uma das mais duras retaliações contra a corte, sucedendo sanções semelhantes impostas durante seu primeiro mandato presidencial.
A resposta do TPI tem sido firme. O tribunal condenou as sanções como prejudiciais à independência judicial e ao funcionamento eficaz da corte, apelando aos seus 125 países membros para que se mantenham unidos em defesa da justiça e dos direitos humanos. Autoridades do tribunal alertaram que a pressão americana poderia comprometer investigações em andamento, inclusive contra líderes israelenses acusados de crimes de guerra em Gaza.
Repercussões globais
O conflito entre Washington e o TPI gerou reações diversas no cenário internacional. Países da União Europeia, como Holanda e França, lamentaram as sanções, reforçando a importância do trabalho da corte no combate à impunidade. Por outro lado, aliados políticos próximos a Trump, como o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, sugeriram a possibilidade de revisão da participação em organizações internacionais vinculadas ao TPI.
Além disso, a ofensiva americana acarretou consequências operacionais para o TPI, como a suspensão de contas de e-mail de funcionários sancionados por prestadores de serviço de tecnologia dos EUA, dificultando a comunicação e a realização de reuniões no âmbito do Conselho de Segurança da ONU.
Conclusão
O caso Trump versus TPI resume um embate entre a busca por justiça internacional e a soberania nacional defendida pelos Estados Unidos sob o governo Trump. Com sanções econômicas, políticas e tecnológicas, Washington busca neutralizar as investigações do tribunal, especialmente contra aliados estratégicos. Em contrapartida, o TPI reforça sua missão de combater impunidade, apelando por solidariedade global. O desfecho desse conflito poderá influenciar significativamente o futuro da justiça criminal internacional e das relações diplomáticas em todo o mundo.
EXCLUSIVO: O Espectro da Justiça Global: A Investida Inédita do TPI Contra Trump e os Ecos no Caso STF Brasileiro
HAIA / BRASÍLIA – Um terremoto político e jurídico de proporções históricas sacode as fundações de duas das maiores democracias do Ocidente. De um lado do Atlântico, o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, torna-se palco de uma batalha judicial sem precedentes contra um ex-presidente dos Estados Unidos e atual candidato, Donald Trump. Do outro, o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil conduz processos que seus críticos chamam de "lawfare" e seus defensores de "blindagem democrática" contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Separados por um oceano, os dois casos são fios de um mesmo novelo: a justiça enfrentando o populismo de forte apelo emocional, em um teste definitivo sobre os limites da lei e a força das instituições.
O Caso Trump no TPI: Uma Fronteira Inexplorada
A abertura de um inquérito pelo TPI contra Donald Trump não é sobre os eventos de 6 de janeiro no Capitólio. O tribunal, criado para julgar crimes de guerra, genocídio, crimes contra a humanidade e agressão, concentra-se em acusações de que Trump e seus aliados, incluindo assessores militares e de inteligência, supostamente encorajaram e facilitaram supostos crimes de guerra cometidos por soldados israelenses em territórios palestinos. A base legal é o Estatuto de Roma, do qual os EUA nunca foram signatários, mas cuja jurisdição é acionada porque os alegados crimes ocorreram no território da Palestina, um Estado observador membro do TPI.
Os desafios são monumentais. Primeiro, a questão da jurisdição: os EUA rejeitam veementemente a autoridade do TPI. Segundo, a complexidade de processar um ex-comandante-chefe por atos de seus subordinados em um teatro de conflito internacional, o que exigirá provar um "nexo causal direto". Terceiro, e mais crucial, o fator político: qualquer mandado de prisão contra Trump seria visto por seus mais de 75 milhões de eleitores não como justiça, mas como uma armação política global, potencialmente inflamando a já combalida polarização americana.
"O TPI está entrando em um campo minado", analisa a Prof. Dra. Elena Vargas, especialista em direito internacional da Universidade de Leiden. "Se avançar, será acusado de interferência política. Se recuar, será visto como covarde. É um jogo de xadrez onde o tabuleiro é a geopolítica, e as peças, a legitimidade da justiça internacional."
O Caso STF no Brasil: O Inimigo Interno e a Teoria do "Lawfare"
No Brasil, o STF, sob a relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, tornou-se uma fortaleza judicial contra o que classifica como "atos antidemocráticos" e "desinformação". Os inquéritos das "Fake News" e do "8 de Janeiro" resultaram na prisão e condenação de figuras bolsonaristas, incluindo digital influencers e empresários, por crimes como atentado contra o Estado Democrático de Direito e formação de organização criminosa.
A defesa dos investigados e uma parcela significativa da direita brasileira gritam "lawfare" – o uso estratégico e supostamente seletivo da lei como arma de guerra política. Apontam para a velocidade processual, as decisões monocráticas de Moraes e a suposta queima de etapas fundamentais do devido processo legal como evidências de um sistema virado contra a oposição.
"O que vivemos no Brasil é a judicialização da política em sua forma mais pura", argumenta o cientista político Carlos Mendonça. "O STF, diante de um Congresso fragmentado e um Executivo frágil, assumiu um papel de tutor da democracia. É um poder que se expande para preencher um vácuo, mas que, ao fazê-lo, cria um perigoso precedente de concentração de poder judicial."
Os Paralelos Assustadores: Quando a Justiça se Torna o Campo de Batalha
Apesar das diferenças contextuais abissais – um tribunal internacional versus uma corte suprema nacional – os casos de Trump e do STF compartilham dinâmicas perturbadoramente similares.
- 1. A Narrativa de Perseguição Política: Tanto Trump quanto os bolsonaristas alvos do STF constroem sua defesa sobre a mesma premissa: são vítimas de uma elite corrupta que usa as instituições para impedir seu projeto político. Esta narrativa é combustível para suas bases, que passam a enxergar o sistema judicial não como um árbitro, mas como um adversário.
- 2. O Desgaste da Legitimidade Institucional: As cortes envolvidas, o TPI e o STF, veem sua legitimidade posta em cheque por uma grande parte da população. Para os apoiadores de Trump, o TPI é um "tribunal fantoche". Para os de Bolsonaro, o STF é um "tribunal de exceção". A imparcialidade, pedra angular de qualquer sistema judicial, é a primeira vítima na guerra de narrativas.
- 3. O Efeito "Martelo de Thor": Em ambos os cenários, as ações judiciais são percebidas como um "martelo" sendo brandido contra um campo político específico. Isso gera um ciclo vicioso: a ação judicial radicaliza a oposição, que por sua vez adota retórica mais inflamada, justificando, na visão da corte, intervenções judiciais ainda mais duras.
- 4. O Dilema do "Ponto de Não Retorno": Tanto em Haia quanto em Brasília, as instituições estão em um caminho do qual é difícil voltar atrás. Uma absolvição ou arquivamento será lida como derrota e impunidade pelo outro lado. Uma condenação, como vitória da perseguição. O veredito, qualquer que seja, dificilmente será aceito pacificamente por todos.
Um Precedente para o Mundo
O desfecho desses dois episódios terá repercussões globais. A investida do TPI contra Trump pode redefinir – ou destruir – os limites da justiça internacional sobre nações soberanas. A atuação do STF brasileiro será estudada como um caso paradigmático de como uma Suprema Corte pode (ou não) defender uma democracia sob ataque a partir de dentro, sem sucumbir à tentação do autoritarismo judicial.
A pergunta que paira no ar, de Washington a Brasília, é a mesma: em uma era de polarização extrema, as instituições legais podem administrar justiça sem serem devoradas pela política? A resposta, ainda em construção, definirá o futuro da governança democrática no século XXI.
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(*) Com informações das fontes: Agência Brasil, Brasil de Fato, TVT News, CNN Brasil, G1, BBC, Carta Capital, Deutsche Welle, Terra, ONU, e demais veículos internacionais
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